Capítulo 2 - O final de 1899

O champanhe encomendado da França chegou a tempo na casa de dona Flaviana. Ela tinha passado todos os dias após o Natal, até essa véspera de Ano Novo, esperando a encomenda. Afinal de contas além de ser mais uma data que ela reuniria toda a família, contaria também com a presença da ilustre amiga alemã, conhecida dos tempos de moças, a Sra. Ingerborg.
A mansão fervilhava preparativos. Três leitões estavam no forno. Frutas vindas das américas eram colocadas em belas travessas. A ceia seria como de sempre um sucesso, e memorável, ou pelo menos inesquecível até que se desse outro grande jantar.
O Sr. Felipo De Carli, segundo marido de dona Flaviana, chegou apenas perto do entardecer, passou mais uma bela tarde como de costume na casa da Madame Filipa, e por tal, já se encontrava exausto. Mas claro a presença dos filhos sempre lhe reestabelecia o fôlego, e ainda assim a Sra. Flaviana lhe despertava o interesse, pois mesmo com a meia idade, permanecia com um ar jovial, fruto de sua constante busca por modernizar-se.

Na casa da Madame Filipa os preparativos eram urgentes, pois naquele reveillon teriam uma clientela especial. Um grupo de shakes árabes estava passando uns dias por Firenze, e como parte do pacote turístico não poderiam deixar de visitar o mais famoso bordel da cidade. As cocotes escolhiam suas melhores roupas, treinavam a fala pois essa era a grande oportunidade de casarem com um desses velhos bobos, e fazerem a vida, mesmo que tivessem que depois usar o véu. O importante era garantir o ouro.
Dona Filipa, era muito benevolente com suas meninas, e para ela cada uma que saia dali arranjada, era além de um bom negócio, pois essa era sempre gratificada, uma realização pessoal, pois as tinha como filhas. E ainda naquela noite chegariam da França mais duas meninas, pelo que se sabia, uma italiana e uma russa.

A sra. Lori não teria um bom reveillon. Primeiro porque mais umas vez os filhos estariam longe. E segundo porque desde o dia de Natal, o Sr. Marco estava acamado. Nhá Cleide naquele dia havia sido mandada às pressas ao centro da cidade, a pedido do Sr. Cisnério. Parece que no meio do passeio dos dois, o sr. Marco teve um infarto, e por recomendações médicas deveria permancer de cama por mais uma semana. Na verdade ele passou mal na cama de uma das meninas da casa de Madame Filipa.
***
Foi também na tarde de Natal que Emanuelle encontrou André na Champs Eliseè. Havia ido conseguir com ele uma bela garrafa do melhor vinho que se encontrasse na cidade. Vestiu-se de vermelho, pois era a cor que lhe deixava mais sensual. Claro que ela sabia que o preço que pagaria pela garrafa não seria fácil.
- Eu consigo essa garrafa para você minha querida, mas o preço tu sabes, é dares a mim uma bela noite de luxúria, propôs o mancebo.
- Com certeza terás a melhor noite de sua vida, e se conseguires para mim, duas passagens no primeiro trem do dia 27, lhe darei um dia 26 ainda melhor.
- Mas porque precisas de duas passagens?
- Porque eu e minha amiga Emilieva pretendemos viajar e passar a virada do ano.
- Para onde pretendem ir?
- Minha amiga quer ir visitar a família na Rússia, e eu...bom, eu estou sem rumo, basta me colocar no primeiro trem, não importa o lugar.
- Um pouco estranho isso tudo, entretando eu aceito o acordo.
E assim, naquela tarde o Sr. André viu as nuvens de perto, e Emanuelle chegou na casa de Robes Pierre com a melhor garrafa de vinho, acompanhada de um cartão escrito à pena, como agradecimento do Sr. André, por proporcionar-lhe a melhor noite de sua vida.
Antes disso, Emanuelle foi ao quarto de Emilieva, pois a parte do plano dela ainda deveria ser concluída.
- Aqui está o vinho, conforme disse que conseguiria. Agora você precisa colocar o veneno, e ainda deixar a garrafa como se nunca houvesse sido violada.
- Não se preocupe amiga, eu sou perita nesses coisas. Respondeu Emilieva.
- Certo, outra coisa, deixe suas malas prontas, porque também consegui passagens para nós. Partiremos na terça-feira de manhã.
- Formidável.
Assim, com toda a perícia que Emilieva possuia, abriu o lacre, sacou a rolha, colocou o veneno e fez todo o proceidmento inverso. Jamais diriam que a garrafa havia sido aberta.
Antes do turno da noite começar, Emanuelle já estava de posse da garrafa, e dirigiu-se até o quarto de Robes Pierre.
- Monsieur? Permita-me que entre? Solicitou Emanuelle ao bater a porta.
- Ouí.
- Monsieur, aqui está um mimo que o sr. André, aquele filho de barões, lhe mandou. Há junto um cartão.
- Esses mancebos são muito gentis.
- Não vais provar?
- Seria um desperdício, um vinho desses caríssimo. Prefiro guardar para o reveillon.
- Tens razão.
Nesse momento Emanuelle sentiu o plano ir por água abaixo. Mas a vida lhe ensinou a esperteza, e de imediato lhe ocorreu a grande idéia.
- Entretando, monsieur, o sr. André deve vir hoje, e conforme ele me disse, perguntará ao senhor se apreciou o presente.
- Oh...sendo assim, não poderei fazer está desfeita.
Abriu o vinho serviu em uma taça.
- Gostaria de um gole cherry?
- Não, agradeço, monsieur, ainda preciso arrumar-me.
E assim o sr. Robes Pierre bebeu o vinho. e nunca mais desceu as escadas para o grande salão de sua casa.
Nem trinta minutos depois, pelos fundos, com toda a descrição cabível, Emanuelle e Emilieva, saiam definitivamente em liberdade, comemoravam bebendo a chamapanhe mais cara que a casa oferecia.
- Bom, eu devo cumprir o resto do trato com o sr. André. Preciso passar o dia de amanhã todinho com ele. E você amiga o que fará?
- Não tenho para onde ir. Seria muita indiscreto esperar o trem desde já na estação?
- Com certeza, até porque logo os policias invadirão o bordel. E no mesmo instante estarão a nossa procura.
- E o que faço?
- Tenho uma idéia. Creio que o Sr. André ficará muito feliz se ao invés de uma, tiver duas moças dispostas a alegrá-lo. Venho comigo.
- Formidável.
Ao chegarem na casa do Sr. André, depararam-se com um moço assustado.
- Vejam bem, a policia acabou de passar por aqui, perguntou-me se sabia de algo sobre a morte do sr. Robes Pierre. O que vocês têm haver com isso?
- Nada. Nem sabíamos disso. Estamos terrivelmente espantadas! Exclamou com certo assombro a srta. Emanuelle.
- Pois perguntaram-me de vocês. Sabem conheci esses policias lá no bordel onde trabalham. Creio que as duas são as principais suspeitas. Mas tenho como livrá-las disso. Aqui há duas passagens até Milano. O trem parte daqui uma hora. Há tempo de fugirem. Lá vocês me esperarão até o dia 30, quando partiremos para Firenze. Tenho um contato lá. Madame Filipa, poderá empregá-las. E nem se preocupem, o empreog lá é bom, ela não explora suas cocotes.
- Mas eu pretendia voltar pro Rússia, disse Emilieva.
- Entendo minha cara, mas saiba, que seja lá o que aconteceu, não é o momento. Com certeza procurarão você por lá.
- Mas a policia sabe que sou italiana. Disse Emanuelle.
- Sim, mas sabem que você veio de Palermo, não pensarão em procurá-la em Firenze. Creio ainda que as duas deveriam mudar de nome. Tu podes se chamar Violeta, combina com as flores que costuma usar no cabelo. E tu, chame-se Emilia, pois seu nome é tipicamente russo. assim ficará melhor. Outra coisa, Emanuelle, durante esses dias treine Emilieva a perder todo o seu sotaque, isso pode ser importante.
- Com certeza farei isso. É amiga, aqui começa nossa nova vida. espero apenas encontrar daqui para frente italianos bom pagadores.
Despediram-se do sr. André, e partiram para a estação. Dentro de cinco dias, após a estadia em Milano, chegariam a Firenze, na casa de Madame Filipa, e lá viveriam o ano mais importante de suas vidas.
***
Eram nove horas da noite quando tocou a campainha na casa do De Carli. era a sra. Ingerborg, vinda diretamente de Frankfurt para passar o reveillon e mais uns dias com sua melhor amiga dona Flaviana.
- Minha cara...como está linda, bem gorda, bem rosada, saudou a sra. Flaviana.
- Amada...e você, sempre formosa, se eu não a conhecesse de anos, a confundiria com uma de suas filhas.
Rasgaram seda por uns quinze minutos, durante outros quinze minutos a sra. Ingerborg comentou a saúde e a beleza de cada pessoa que se encontrava presente, e após isso sentaram-se todos à mesa, para ceiar.
- Sr. Felipo, e os vinhedos como vão?
- Ah, sra. Ingerborg, estão excelentes. Teremos uma bela safra esse ano. Será o suficiente para eu começar minha mais nova empreitada. Vou começar a plantar oliva.
- Azeite e vinho. Os deuses devem estar felizes com o senhor. Creio que lhe presenterão com suas graças muito imediatamente.
- Que eles lhe ouçam sra. Ingerborg.
A conversa entre os dois pareciam muito amistosa como sempre. O que poucos sabiam, nem mesmo dona Flaviana tinha conhecimento, era do ódio que exisitia entre seu marido e a sra. Ingerborg. A razão disso seria conhecida durante os dias que se sucederiam.
- Atenção todos vocês! Exclamou faceira a dona Flaviana.
- Está chegando a hora da contagem regressiva. Antes quero manifestar toda a minha emoção em ter aqui reunidos, as pessoas que mais amo na minha vida. Meu marido, minhas filhas, meus filhos, meus netos, genros, noras e minha melhor amiga. Creio que o ano de 1900 será formidável para todos, especialemnte para mim, por passar a virada embriagada com tamanha felicidade! Agora brindemos, e faremos a contagem regressiva.
E assim chegou o ano de 1900. Mas ao contrário do que esperava dona flaviana aquele não seria um ano feliz.

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