Capítulo 4: Na Via Di Fiori

A caçula de dona Flaviana era a única que ainda morava com os pais. Sadine era fisicamente parecida com o pai, o sr. Felipo, mas possuia uma personalidade selvagem que não fora herdada de ninguém. Seus irmãos haviam partido antes do amanhecer, e agora só ela estava presente no café da manhã.

- Minha filha, hoje vou verificar as videiras lá em San Savino. Queres ir comigo? - Perguntou o sr. Felipo.
- Papai, claro que não. Já havia combinado com a mamãe e a sra. Ingerborg de sairmos juntas hoje.
-Pois bem. Lamento que nenhum de meus filhos se interesse por meu trabalho, tão pouco algum dos meus enteados.
- Ora meu bem. Não se lamente por isso. E antes de anoitecer já estarás aqui, em tempo suficiente do jantar. - Disse dona Flaviana.
- Então nos veremos somente amanhã. Hoje vou ao cassino, e quando chegar já deveras ter se recolhido meu amigos. - Comentou a sra. Ingerborg.
- Ingerborg, minha cara. Não deverias gastar seu dinheiro no jogo. Ouça o conselho desse velho amigo.
- És muito ranzinza, isso sim meu amigo. Flaviana, poderíamos convidar a sra. Lori para ir conosco?
- Creio que seja difícil tirá-la de casa. Mas não custa tentar.

E assim todos sairam. As três conseguiram o milagre. A sra. Lori finalmente resolvera sair de casa, provavlemente contagiada pela alegria da próspera chegada de seu filho.

Para Sadine, era uma aventura sair com as três senhoras, uma aventura que exigia certa paciência, pois elas paravam em todas as tendas da feira da Via Di Fiori.

Na tenda do Sr. Martino encomendaram coelhos para o jantar. Não havia melhores carnes na cidade dos que as da tenda do sr. Martino. dizem que ele mesmo criava algum gado e que o prórpio saia a noite caçar.

Quem passava pela Via Di Fiori não poderia deixar de parar na tenda de flores de Van Göethe, uma holandesa vinda de haia, que não importava o fato, sempre apresentava um belo sorriso.

A sra. Lori comprou um belo ramalhete de margaridas. A sra. Ingerborg presentiou dona Flaviana com um vaso de tulipas. Sadine ficou mais atenta no outro lado da rua. Ela ouvira um barulho e quando mirou o que era, viu estatelado no chão o leiteiro Lucius. esse caiu ao tropeçar num cesto de pão da tenda do Sr. Paolo, um velhinho que fora o primeiro a abrir comércio na via.

Já no final da rua elas chegaram a seu destino. A botique do chinês Xin Li Ping. Porém aquele não era um dia comum na botique, pois esta, estava lotada de raparigas e senhoras. O sr. Xin Li Ping corria de um lado para o outro, subia e descia da escadinha, tudo para atender a clientela que pedia vestidos desde o balcão até a prateleira mais alta.

Sadine e as senhoras viram de um lado duas senhoras escolhendo vestidos de cores sóbrias. Eram duas carolas que não perdiam a missa do padre Aleto, tão pouco perdiam algum mexerico da cidade.

- Olá senhora Malvina. tudo bom dona Dulcina? - Cumprimentou a sra. Lori.
- Tudo bem agora, minhas caras. Já viram lá do outro lado da loja? - Indagou a dona Dulcina.
- Imaginem só. Nós as senhoras de bem, no mesmo ambiente que as raparigas e a cafetina. - Falou desdenhosa, a sra. Malvina.

Do outro lado da botique, as meninas da casa de Madame Filipa faziam o maior alvoroço, que virou em confusão, quando houve uma disputa por um vestido lilás. De um lado o vestido foi pego por Emanuelle e do outro por Sadine.

- Eu vi este vestido primeiro, senhorita. - Disse Emanuelle.
- Mas a preferência é para as moças de família, o que não é o seu caso. - Atravessou-se a sra. Ingerborg.
- Mas minha afilhada pagará pelo vestido, que lhe cairá muito melhor. Violeta tem curvas. Não é uma senhorita vara-pau. - Retrucou Madame Filipa.

Estava armada a confusão. As senhoras da sociedade destratavam as cocotes, que eram defendidas por Madame Filipa.
- Vamos senhoras. Vamos nos retirar antes que pegamos pulgas ou algo pior. - Declarou a sr.a Ingerborg, que completou:
- Francamente senhor Xin Li Ping. Deveria escolher melhor a sua freguesia.

E assim sairam e ficaram praguejando as raparigas. A sra. Malvina rezava para que a condenação a fogueira voltasse a ser aplicada. As garotas e a sra. Filipa nem se abalaram. Estavam felizes com seus vestidos novos, e naquela noite seus clientes receberiam o melhor atendimento.
***
No dia seguinte, uma neve fina caiu. O senhor Paolo abriu a tenda cedo. Antes que chegasse o primeiro freguês, foi conversar com o sr. Martino que já comentava alguma coisa com Van Göethe.
- Bom dia. - Disse o sr. Paolo.
- Bom dia, espero que essa neve não aumente, senão minhas flores estarão perdidas. - Disse Van Göethe.
- Sem falar que os fregueses não saem de casa. - Falou o sr. Martino.
- Souberam do ocorrdio na botique do chinês? Perguntou o sr. Paolo.
- Pobres cocotes! Apesar de tudo o que fazem, são seres humanos. e não posso me queixar de Madame Filipa, que é uma das minhas melhores freguesas. Nunca faltam flores em seu salão.
- É, tens razão Van Göethe, mas compreenda as senhoras, cujos maridos sustentam essas raparigas. Comentou o sr. Martino.

Nesse instante foram interrompidos pelos gritos do leiteiro Lucius que veio correndo:
- Uma morta! Mataram uma senhora!
-Acalme-se homem. Disse o sr. Paolo. - O que houve?
- Eu venho agora da Via La Sorella. Estva fazendo as entregas e passando perto de um arbusto na esquina que vai para o cassino eu a vi. Lá atirada no chão, com sangue na garganta, decolaram a pobre, morta, estava morta, aquela alemoa, amiga da sra. Flaviana. Morta. Aquela que ontem comprou suas tulipas, Van Göethe.
- Não creio nisso! Exclamou o sr. Paolo.
- Maria Vergini! Disse o sr. Martino.
- Vamos lá! Vamos lá! Disse Van Göethe.
E assim a comitiva partiu curiosa.

Dona Flaviana acordou, desceu para o café, estranhando a ausência de sua amiga Ingerborg, que nunca mais voltaria para Frankfurt.

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