Sete - Capitulo 2

A Ilha do Boi sempre fora um lugar de casas ricas e grandes, um lugar refinado em Vitória. Vicente a vida toda morara lá. Era filho de um advogado renomado, e sua mãe trabalhava no Banco do Brasil no centro da cidade. Ela tinha dois irmãos mais velhos, e uma irmã mais nova.

Desde criança estudou nas melhores escolas, sempre teve todos os brinquedos que quis, e com 10 anos já havia viajado pela Europa e conhecia a Disney World em Orlando. Quando entrou no ensino médio, Vicente já era um belo rapaz, alto, moreno, e a cada dia sua barba ia ficando mais marcada. Era muito cobiçado por suas colegas. Teve várias namoradas.

O jovem pelos seus 16 anos começou a despertar seu interesse pela Medicina. Via pela televisão sempre que podia o seriado americano Plantão Médico. Aos poucos seu desejo por vivenciar o dia-a-dia de um hospital foi crescendo em si, alimentado pelo seu desejo por ter relações sexuais com enfermeiras sensuais pelas salas de um hospital.

Além de estudar em uma boa escola, seus pais pagaram durante todo o terceiro ano um curso pré-vestibular. Naquele ano, sabendo que o curso de medicina sempre fora muito disputado, Vicente deixou de sair com os amigos a danceterias, e estudou o que pode.

Nos dias do vestibular, Vicente conheceu uma moça, negra, uma das garotas mais bonitas que já havia conhecido na vida. Ela vinha de Niterói, e foi fazer vestibular lá. Márcia havia se inscrito em diversas universidades, pois queria muito fazer Medicina. Ela já fazia faculdade de dança no Rio de Janeiro, e aquele era o ultimo ano que investiria em vestibulares. Sentaram-se um ao lado do outro.

No final do primeiro dia de provas, ambos terminaram a prova no mesmo momento, então Vicente chegou até ela, conversou, a convidou para quando acabassem as provas, que se encontrassem em algum lugar para sair, sentar num bar. Márcia aceitou, e assim fizeram. Naquele sábado passaram a noite juntos, ficaram, dançaram. Mas no domingo Márcia ia dali para Arraial d’ajuda, onde passaria suas férias. Nunca mais se viram.

Márcia não passou naquele vestibular. Vicente sim. E quando chegou final de fevereiro ele já era um calouro. Sua dedicação no primeiro semestre surpreendeu o professor Silvio, que o convidou para participar de uma seleção para terminar seus estudos em Roma, e depois retornar apenas para fazer a residência.

Apenas cinco acadêmicos concorreram, e Vicente se sobressaiu. Em janeiro partiu para Roma. Vicente ficara sabendo que nesse programa mais três brasileiros haviam sido selecionados. Uma estudante de São Paulo, e dois rapazes de Brasilia. Vicente nunca se sentia confortável em aviões. Mas naquela viagem teve uma boa companhia, um rapaz chamado Thomas foi sentado na poltrona ao lado e o distraiu contando sobre suas aventuras no skate e no surf. A viagem passou muito rápido.

Em Roma, uma senhora que tinha uma pensão para estudantes estrangeiros o aguardava. Chegando na pensão, Vicente conheceu os outros onze hóspedes, os brasilienses Cláudio e Anderson, a paulista Fabiola, uma argentina chamada Clemence, dois nigerianos Abu e Amepoo, e a irmã de Abu, Dupe. Os outros eram japoneses que ele nunca sabia o nome de cor. Na verdade ele lembrava sempre o nome de Isako, porque era com quem dividiria quarto.

Porém sua aproximação foi mais rápida com os brasileiros, porque juntos ficava mais fácil aprender o italiano e porque também seriam colegas de curso. Durante os três anos seguidos os quatro forma os melhores amigos e sempre faziam os trabalhos juntos. Sempre quando as férias chegavam voltavam ao Brasil, para passar com seus familiares. Mas juntos também fizeram diversas viagens pela Europa.

Foi num final de semana em Viena que Vicente ficou a primeira vez com Fabíola. Naquela noite eles beberam muito chop, e diferente das outras vezes, Fabíola parecia mais bonita. Seus cabelos longos e negros brilhavam, mesmo dentro da danceteria. E o efeito do chop a deixava com um sorriso assustadoramente sedutor. Dois meses depois de ficarem vários dias, e de muitas noites expulsarem Isako do quarto, começaram a namorar.

Porém Fabiola tinha diversas brigas com Dupe, com quem dividia o quarto, e naquele ano, ela encontrará um apartamento vago. Então mudou-se da pensão. E foi assim que todo final de semana, Vicente migrava para o apartamento da namorada. E todo domingo comiam sempre pasta carbonara. O tempo foi passando e Vicente começou a cansar de sua rotina. E sua namorada já o cansava, pois ela não fizera muitos amigos em Roma, e o solicitava para tudo. Ele sentia-se sufocado.

No sábado anterior, ele mal dormiu. Ficou pensando, e decidindo algo sobre sua vida. Pensava como tudo poderia ter sido diferente. Pegou no sono pela manhã, mas mal adormecera quando mais um domingo o telefone tocou, com o chamado de Fabiola para que almoçassem juntos. Ele decidira, seria a última vez.
O final do semestre se aproximava, e naquele mês de janeiro ele iria passar férias sozinho, sem família, ou namorada. Porém as horas foram passando e a coragem ara comunicar sua decisão a Fabiola não vinha. Somente quando o despertador tocou às 7 horas da manhã da segunda-feira. Falou tudo o que sentia. Um silêncio incomodo foi a resposta. Fabíola parecia uma estátua grega. Não demonstrou uma reação. Apenas disse que se ele preferia assim, que assim seria. Abriu a porta para que ele fosse embora.

A caminho da faculdade, Vicente se sentia leve. A noite chegaria em casa e entraria na internet para escolher um bom lugar para passar suas férias. Uma boa praia. Era disso que ele precisava. Os vinte dias até o final do semestre foram agitados, pelas provas, e exames. Fabiola apenas o lhe cumprimentava com cortesia.
Desde aquela segunda-feira nunca mais falaram-se. No fundo ele não queria saber como ela estava reagindo a situação, mas julgava que respondia bem, pois não demonstrou nenhum sinal do contrario. Para ele, talvez ela tivesse percebido o que a relação estava gasta mesmo e acabara conformando-se com isso. Mas alguns dias ais adiante ele perceberia que uma tempestade arma-se em sua vida, e que suas férias não seriam tão tranqüilas como planejava.

0 comentários: