Sete

Capítulo 1
Os domingos costumavam ser sempre iguais. Fabricio chegava sempre em torno das 6:30 da manhã em casa, exausto da madrugada, meio de porre, depois de suas mais de sete cervejas e alguns drinks, com as pernas meio bambas de tanto dançar. Nunca dizia bom dia, ou cumprimentava o porteiro do prédio onde morava na Avenida Borges de Medeiros no Centro de Porto Alegre. Apenas o lançava um olhar que já era um cumprimento. Entrava no elevador, apertava o número 10, e depois de alguns segundos, catava a chave de entrada de seu JK. Apenas tirava os calçados e só veria a aparência que o domingo teria 10 horas depois.

Trinta minutos mais tarde, em Niterói, Marcia acordava. Não saia aos sábados, porque o bar onde tocava samba de raiz tinha sua melhor noite na sexta-feira. E domingo era o dia em que caminhava em Icaraí, pela orla da Baia de Guanabara. Caminhava quase até São Francisco. Tomava uma água de coco, voltava o trajeto, e passava numa feirinha, onde comprava batatas, ovos, e tempero verde, para fazer seu almoço dominical: arroz branco, frango assado e maionese. A tarde ia ao cinema, e antes que o dia acabasse voltava para casa para conectar a internet e falar com suas colegas, já planejando o próximo dia na Escola de Dança onde trabalhava.

Quem costumava chegar perto das 7h da manhã em casa era Michel. Ou chegava nessa hora em casa, ou nessa hora pedia para que a garota que estivesse com ele fosse embora, porque precisava descansar. Afinal, antes do futebol com os amigos pela tardinha, precisava dormir, acordar, tomar um “Nescau”, comer uma torrada, e umas quatro bananas. Mas só iria pro futebol se não tivesse jogo do São Paulo, porque nesse caso seu paradeiro seria o Morumbi. Precisava sempre desligar seu celular, porque senão alguma vadia lhe ligaria. Pelo menos assim ele pensava. E caso acontecesse seu humor mudaria, porque alguém “pegando no seu pé” é algo que Michel não desejava. Sua liberdade era seu vício, e seu modo de vida.

Em Roma já era quase meio-dia. Fabiola já havia tomado banho e então ligava pro namorado. Todo domingo ela ligava para Vicente mais ou menos no mesmo horário. Para acordá-lo, e para que ele viesse logo. Queria que sempre almoçassem juntos e depois que ele a ajudasse com os trabalhos da faculdade. Ambos foram para lá para estudar Medicina. Fabiola era paulista. Vicente era capixaba. Apenas lá que se conheceram. A dificuldade de estar no exterior os aproximara. Fabiola considerava isso muito bom, mas Vicente já se cansava. Queria divertir-se com as italianas, e na turma deles tinham moças muito bonitas. Ele sempre pensava em uma forma de terminar o namoro. Mas já era o décimo sexto domingo que mais uma vez iria almoça pasta carbonara com sua namorada.

Thomas dormia domingos pela manhã. Quando chegasse a hora do almoço sua mãe o chamaria. Almoçariam juntos. Depois ele veria alguns filmes na TV a cabo, e no final do dia, daria uma volta com seus amigos pela Lapa. Sentariam num bar e beberiam chops, sempre de olho nas garotas que passassem. Contariam um vantagem para outro de quem havia “pego” mais mulher nos últimos tempos, e quem conseguia fazer a manobra mais radical no surf. No fundo ele preferia estar com sua ex-namorada. Mas a mesma viciou-se em crack e o deixou. Um dias desses ele havia a visto jogada em um beco. Quis ir até ela e falar-lhe. Mas suas pernas não obedeceram sua vontade. Mas naquele domingo ainda precisaria lavar seu carro, porque seu pai já o ameaçava de corte de mesada.

Ricardo deixava Richard, com era conhecido quando se apresentava, de lado, em torno das 9h da manhã de domingo. Chegava em casa e maravilha-se com sua carteira cheia de notas de cinqüenta reais. A “coroa” que procurara seus serviços na noite anterior havia sido muito generosa. Ficava só de cueca, fechava todas as janelas e acendia um baseado. Para acompanhar tomava uma latinha de Skol. Então tomava um banho e dormia até as 17h, porque domingo era um dia que sempre enchia a danceteria onde trabalhava na zona norte de Porto Alegre. Muitas senhoras dispostas a gastar algum dinheiro faziam sua matinê, e para Ricardo isso sempre era bom, pois significava alguma roupa nova que compraria na segunda-feira.

Aquele fora apenas um domingo a mais. Tão comum como qualquer outro. Mas era a véspera de um novo início. A segunda chegaria mudando anunciando uma nova vida.

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