Capitulo 18: Fogo

O final do outono mostrava que logo um intenso inverno chegaria. Dezembro começara frio em Firenze.

Mais frio ainda sentia Emilieva. Ela fora traída pela pessoa que mais confiava, por aquela que ela mataria se fosse preciso. E agora estava ali, deitada em uma cama dura na delegacia, onde o detetive Sérgio a colocara. Pensava em mil maneiras de sair dali. Mas como poderia. Conhecia poucas pessoas. Madame Filipe morrera de tuberculose. Lucius pelo que indicava caiu de bêbado no rio Arno e também morreu. As colegas de bordel, todas partiram para outras casas após a morte de Madame Filipa. E Emanuelle...bom Emanuelle lhe negou ajuda na hora que mais precisou.

A policia francesa, mesmo subornada por Emanuelle, não desistiu do caso, e os policiais enviados denunciaram Emilieva, como única culpada pela morte de Robes Pierre. Assim o detetive Sérgio declarou a prisão de Emilieva, e desde o dia que Emanuelle a expulsara, essa encontrava-se na cadeia para mulheres da cidade.

O detetive Sérgio interregou Emanuelle, quis saber o porque dela ter vindo junto com uma assassina. Emanuelle disse que veio porque era maltratada por Robes Pierre, e precisava fugir, pois esse a ameaçara de morte. Aceitou o plano de Emilieva e disse que nem imaginava que a amiga era uma assassina, e por isso infelizmente teve que negar ajuda a Emilieva para não se complicar com a policia. Disse que estava muito triste pela descoberta, e pediu que toda semana o detetive fosse até sua casa, pegar alguns mantimentos para entregar a Emilieva, mas desde que essa não soubesse de quem era a doação. Disse que apesar de te tudo tina dó da amiga assassina.

***

Na manhã da véspera de Natal, do ano de 1900, Emanuelle fora caminhar sozinha pelo bosque onde um dia, tempos atrás havia feito um pique-nique com seu marido Tulio. E foi lá que ela encontrou Peter.
- Bom dia. Disse Emanuelle.
- Bom dia. Fiquei sabendo que você foi enganada por sua amiga. Creio que eu tenha exagerado um pouco ao chamá-la de golpista.
- Creio que seja tarde para lamentar-se, senhor. Dê-me licença, meu marido me aguarda.
Peter então segurou Emanuelle pelo braço.
- Solte-me senhor.
- Espere.
Peter então puxou Emanuelle contra seu corpo, e lhe roubou um beijo. Essa retribui. Passado alguns minutos Emanuelle desvencilhou-se dos braços de Peter, e deu-lhe um bofetão no rosto.
- Sei que meu passado é de lama, mas me respeite agora. Respeite sua adorada Sadine!
- Eu não posso, perto de ti eu não posso. Sempre lhe quis minha cara. Mas entenda que não podíamos. Tu não deverias ter criado ilusões, achar que seria eu que lhe faria uma dama da sociedade.
- E foi quando eu percebi isso, senhor, que eu vi que Tulio me daria uma vida digna. Nunca foi interesse. Não apenas eu tenho o direito de querer ser feliz. Tenho o direito de ter um lar, uma familia. E quando a tudo que herdei, quis o destino que fosse assim. Eu poderia ser mais elegante e mais sofisticada que Sadine, meu caro. Poderia ter nascido rica, como era meu pai. E talvez pela crueldade que o destino me deu como vida, ele tenha me recompensado. E eu não podia deixar de expulsar com gosto sua mulher e a avó dela, que só me desprezaram e me trataram como bicho.
- Sempre imaginei que esses seriam seus motivos. Fico feliz em saber que sempre foi a moça sonhadora que eu imaginei que fosse.
- Não sou esse doce não. Já fiz coisas terríveis. A vida me ensinou alguma amargura. Tu fostes a maior dela.
- Pois vou te recompensar por isso.
E mais uma vez tomou Emanuelle em seus braços, e levou-a no colo para atrás de algumas árvores, onde não poderiam ser vistos, e lá os dois fizeram amor com toda vontade que haviam escondido durante meses dentro de si.
- Que vergonha, tu e fez sentir-me suja por amar-te, Peter. Eu não posso ser assim, cruel com Tulio.
- Danem-se. Não sou feliz com Sadine. Vamos fugir. Vamos para outro mundo. André me fala das maravilhas do Brasil. Vamos ser felizes lá!
- Não me fale em André, que me acusou de assassinato injustamente. Mas sim, tenho vontade de conhecer o Brasil, dizem que há belas praias por lá. Talvez seja a maior loucura de minha vida, mas eu aceito fugir contigo.
- Vá agora, é noite de natal. Temos que planejar tudo direito. Aguarde noticias minha.
- Ter você de novo, Peter, foi meu melhor presente de Natal.
- Seu corpo foi meu melhor presente.
E com um longo beijo os dois se despediram.

***

Emanuelle teve sua primeira ceia de Natal em uma casa verdadeiramente sua. Porém o jantar foi simples, pois foi apenas para ela e Tulio. Tulio lamentava-se por serem apenas os dois, e por ter que abrir o cassino logo em seguida. Emanuelle nem importava-se, estava com o pensamento distante.
- Querida, devo ir agora.
- Como disse?
- Você me parece tão distante. Eu disse que estou indo, vou para o cassino. Em noite como essas tenho sempre bons lucros.
- Eu estou pensando...na verdade estou fascinada, um Natal em minha própria casa. Vá Tulio. Amanhã passamos o dia juntos.
- Boa noite.
E beijando a testa de Emanuelle, ele dirigiu-se até o cassino.

Já eram duas horas da manhã, quando Nhá Cleide entrou esbaforida e desesperada dentro do salão do cassino. Entrou gritando:
- Fogo! Fogo sinhô Túio, fogo! A casa de suncês tá pegânu fogo, e a sinhazinha Emanuelle tá lá drumino, não consigo entrá no quarto sinhô!
O salão ficou em silêncio.
Tulio então ordenou que um dos funcionários fechasse tudo e saiu em disparada, atrás dele um bando de curiosos.
Chegou lá e a casa que fora dos Lori ardia em chamas. De dentro ouviu-se gritos que pediam por socorro.
- É a sinhazinha sinhô! Tirem ela de lá!
- Eu tiro! Eu tiro. Disse Tulio e começou a partir para dentro do incêndio, quando do meio do bando de curiosos, Tulio ouviu a voz de Peter.
- Eu vou contigo, homem de Deus. Não seja louco de ir sozinho.
- Não posso negar ajuda agora, Emanuelle vai morrer.

E quando os dois tentaram entrar, o segundo pavimento desabou. Só restava esperar as chamas cederem.

Tulio ficou mudo. Peter ajoelhou-se e chorou. Pensou consigo mesmo:
"Fui um idiota, deixei a mulher de minha vida passar por mim, e morrer".

0 comentários: