Capítulo 8 - Na chegada da primavera

Os dias se passaram em Firenze. O inverno que naquele ano fora intenso finalmente chegava ao fim. Março foi um mês com dias constantes de uma primavera ensolarada! Nos jardins das casas, as flores mostravam toda sua exuberância!

O mesmo não aconteceu com o canteiro de rosas brancas do quintal de Madame Filipa. Desde que Emilieva partira, a cada dia as roseiras definhavam, até por fim morrerem. O jardim ficou seco e sem vida. Era um canto a parte no meio da alegria e do colorido primaveril.

Emilieva conseguira abrigo na casa do leiteiro Lucius, que nunca mais voltara ao bordel. E o tempo passou e Emilieva continuou morando lá, e pelo visto começaram a criar uma vida estável. Emilieva descobrira na metade do mês de março que estava grávida. Não tinham uma vida fácil. Moravam num vilarejo mais afastado da cidade. A casa de Lucius era muito simples, de madeira e chão batido, não havia assoalho. Viviam da venda do leite. Emilieva para ajudar e compensar de alguma forma aprendera a ordenhar as vacas. Vendia também bolos que sempre soubera fazer.

Emanuelle ia toda semana visitar a amiga e lhe trazia algum donativo, quase sempre carne comprada na antiga tenda do senhor Martino. Após a misteriosa morte do sr. Martino, sua prima Bruna, viera de Genova e assumiu o negócio. Bruna havia morado em Firenze muito tempo atrás, mas partira de repende e nunca mais voltara até então! Foi através dos cochichos entre Van Göethe, o padeiro Paolo e Lucius, que ficou-se sabendo que a vida dela era miserável em Genova, e viu na oportunidade uma grande chance de voltar a cidade!

A Via di Fiori continuava a mesma! O comerciante Xin Li Ping, não vendia mais a mesma quantidade do que meses atrás. Desde que Aliluis Alfad abriu seu comércio com tecidos árabes, a concorrência se estabeleceu. Ninguém via mais o gentil chinês sorrindo. Constantemente esse se apresentava carruncudo.

Na casa dos Lori o clima hostil entre dona Carmela e o sr. Marco voltara. Desde que seu filho Giulian e sua nora Charlote se mudaram para a outra margem do Arno, onde compraram uma grande mansão, com o consultório médico tão desejado, o casal de senhores retomou sua rotina de troca de farpas. Nem mesmo podiam contar com Nhá Cleide. Essa constantemente ia passear com Cisnério Hioga. Para o assombro da sra. Malvina e da dona Dulcina, que achavam o namoro um escândalo.

Essas duas continuavam com sua vida de carolice, e eram as mais apreciadas dentre os devotos, pelo padre Aleto. Esse desde que presenciou o ocorrido atrás do quintal da igreja, intensificou sua pregação, visando sempre manter a moral e os bons valores da época.

Os De Carli estavam ganhando cada vez mais dinheiro. Durante todo mês de fevereiro Dona Flaviana e o s. Felipo viajaram pela Europa, procurando novos e grandes compradores para seus vinhos e seu azeite. Foi nessa época que a visita de Peter a casa dos De Carli se intensificou. Sadine ficava sozinha, e Peter praticamente se mudara para lá! Não demorou muito e já estavam noivos, e pretendiam casar logo. As carolas da igreja comentavam que era para disfarçar uma possível gravidez. Mas isso não passava de boatos de comadres.

Foi nesse período que Peter parou de frequentar a casa de Madame Filipa, e nunca mais passara uma noite com Emanuelle. Isso aumentou a amargura de Emanuelle que assumiu o comando do bordel. Madame Filipa já fazia unas 40 dias que estava acamada. Estava com tuberculose, e como Gulihermina deveria pagar o prejuízo ocorrido na noite em que Emilieva foi mandada embora, e Brunette havia ido com o sr. André Raveras ao Brasil, como acompanhante, coube a Emanuelle, por ser a mais esperta, cuidar de tudo.

Para Emanuelle isso era bom, porque ficou isenta de deitar-se com qualquer cliente. Ela só pensava em Peter. Mas via que cada vez mais sua paixão tornava-se impossível. Mas também estava mais aliviada, porque o detetive Sérgio parou de importuná-la. Na realidade, ele não conseguiu apurar nenhuma prova que incriminasse alguém das mortes de sra. Ingerborg Schwart e do sr. Martino. Por ora, havia encerrado o caso.

***

Cansado das constantes brigas com a sra. Carmela Lori, certo dia o sr. Marco decidiu passear na cidade. Antes, no inverno, não lhe agradava o fato de congelar-se pelas ruas. Resolveu visitar alguns amigos, jogou gamão, e decidiu ir até a Via Di Fiori. Ficou bom tempo conversando com o senhor Paolo, e quando decidiu que era hora de voltar embora, passou pela tenda de carnes.

E foi lá que reencontrou Bruna Delibera! Sua antiga paixão!
-Bruna!!! Bruna, me diga que meus olhos não me enganam?
- Sou eu mesma Marco. O tempo foi cruel comigo, eu sei. Estou feia, velha, e seca.
- Bruna, mas por onde andou, que rumo deu a sua vida?
- Dei o único rumo que uma mulher rejeitada pode dar a sua vida. Caí no mundo.
- Bruna, por deus! Nunca a rejeitei! Tudo o que eu queria...
- Marco, aqui não é lugar. - Interrompeu Bruna - Eu preciso atender meus clientes, preciso por comida nas minhas panelas.
- Eu comprendo, vou esperar o fim do seu expediente. Temos muito que conversar. São mais de 20 anos!
- É temos! Talvez temos mesmo.

No final do expediente, o sr. Marco acompanhou a sra. Bruna até sua casa. Essa, lhe convidou que entra-se e logo já servia um chá.
- Então Marco, sobre o que quer falar. Sobre a forma com que me abandonastes?
- Não lhe abandonei. Tu bens sabe, eu era casado, não podia me aventurar no momento. Paris deveria ficar para outra oportunidade. Na época Carmela sofria muito pela distância dos filhos!
- Pois tu me encheu de falsas promessas. De um amor falso que só me trouxe desgraça! Tu imagina o que foi que passei? Sabe como me senti esperando aquele trem sozinha? Sabe o que foi chegar em Paris, num país diferente, outra língua, sem saber nem falar?
- Eu sei que deve ter sido difícil...
- Não sabe! Não imagina - Interompeu, Bruna - Solteira numa cidade como aquela já é difícil. Para uma jovem grávida, uma futura mãe solteira, é ainda pior! Em qualquer lugar é pior! Mendigar, ficar a mercê de boa vontade!
- Grávida?!?! Você disse, grávida?
- Sim, eu carregava uma criança na barriga. Não me olhe com espanto. Eu havia lhe dito, que tínhamos que partir porque nosso fruto não vingaria aqui.
- Mas então era isso que tu quisestes me falar?
- E tu não compreendeu. Ou se fez que não compreendeu. Eu duvidei do seu amor. Duvido até hoje, não lhe considero. Pois se não fosse uma senhora que me deu um emprego de doméstica, eu não sei o que seria de mim. Mandei que Martino dissesse que eu estava em Genova. Não queria que ninguém me achasse mais. E foi num dia primavera, um dia como hoje que eu, há exatamente 24 anos pari a criança! Ironicamente hoje, 24 anos depois que dei a luz, voltamos a nos ver!
O sr. Marcos permaneceu em silêncio por alguns minutos. Estava digerindo os fatos.

***

Enfim chegava o fim de mais uma noite na casa de Madame Filipa. Emanuelle esperou até que o último cliente fosse embora, e então subiu para ver com estava Madame Filipa. Ao entrar no quarto viu essa acordada.
- Senhora, que fazes a corda, são quase 4 horas da manhã, deves repousar!
- Eu sei minha cara, mas essa tosse não me deixa sossegada! E eu sabia que virias me ver. Veja ali Emanuelle sobre a cômada.
- Há um pacote!
- Sim, pegue-o
Emanuelle foi até lá, e trouxe o pacote até Madame Filipa.
-Abra, é seu.
Emanulle abriu o pacote. Dentro havia uma corrente com um camafeu.
- É lindo, senhora. Muito bonito.
- Foi meu, ganhei de minha mãe! Esperei muito tempo para poder repassar para alguém. Agora ele é seu.
- Eu fico muito grata, mas porque está me dando algo tão importante e significativo para a senhora?
- Porque tu demonstrou muita lealdade a mim. Tem cuidado de mim como só uma filha cuidaria. Sinto que aos poucos minha vida vai se desgastando. Tem algum tempo que decidi dá-lo a você. Mas hoje foi o dia oportuno. Ou acha que esqueci que hoje completas 24 anos?
- Pois nem eu me lembrava. Nunca comemoro meu aniversário. Não tenho prazer nisso. Mas estou muito contente. Se eu não houvesse esquecido como se chora, agora eu choraria. Muito obrigada Madame Filipa! Muito mesmo.
- Coloque-o, quero ver como fica em você.
Emanuelle colocou o cordão. Ficou perfeito. E segurando as mãos de Madame Filipa, ficou ali até que essa adormecesse. Então desceu, foi até o bar, abri um vinho e serviu uma taça. Sentou-se e bebeu até o último gole. Adormeceu ali mesmo.

2 comentários:

Anônimo disse...

E eu e eu e eu ???????????
:D

(liane)

Anônimo disse...

a proposito violeta, vc podia postar uma lista dos personagens/malfeitores hein...

(liane)