Capítulo 11 - O aniversário de Sadine

Naquele sábado dia 20 de maio era o aniversário de Sadine. Coincidiu naquele ano, a data cair no melhor dia da semana para fazer uma grande festa em comemoração aos 22 anos de Sadine De Carli.

O sr. Felipo trouxe mais de cinquenta garrafas de vinho de sua vinícola, mais precisamente uma boa reserva que ele guardava, da excelente safra de 1896. Dona Flaviana tinha ainda algumas garrafas de chamapanhe que trouxeram da útima viagem à França, assim como dois barris de chop vindos de Munique. Van Goethë foi chamada para enfeitar a casa com muitas rosas, lisiantus e peônias, e ficou por conta do sr. Paolo confeccionar um bolo para a aniversariante. Para a festa foram convidados grande parte da burguesia fiorentina da época.

Sadine, tirou o dia para embelezar-se e preparar-se para a noite. Tomou banho na tina com leite de cabra e pétalas de rosas. E usaria o vestido que ganhou de Peter. Sobre o tal vestido, vale lembrar que foi motivo de uma briga entre o sr. Aliluis e Xin Li Ping.

Peter fora até a loja do chinês, queria escolher um vestido pronto para sua noiva. Só que antes disso, passou na loja de tecidos do senhor Aliluis. Elá achou o vestido que acabou comprando. Quem também estava na loja era Emanuelle, que sentiu seu coração disparar com a chegada de Peter. Afoita ela disse:
- Bom dia, senhor. Comprando presente para sua noiva?
- Sim, de aniversário, será no sábado, marcaremos a data, para esse ano ainda.
- Que rápido, mal se conhecem, porém isso não me diz respeito. Espero que sejam felizes, e que não haja motivos para vê-lo em nossa casa. Seria bem vindo, mas desejo que sua mulher o faça feliz.
- Agradeço seus votos. E realmente o motivo que me levava ir a sua casa não existe mais. Até logo.
Ao fundo Emanuelle ouviu um risinho debochado do sr. Aliluis.

Enraivecida e ao mesmo tempo arrasada, ela não pensou duas vezes, foi direto a loja do sr. Xin Li Ping.
- Bom dia!
- Bom dia, senhorita.
- Sabe senhor Xin Li Ping, o senho tem que atentar mais para a concorrência! Hoje mesmo vi um cliente saindo com um vestido, igual aquele que o senhor tem ali na vitrina, da loja que era para vender apenas tecidos do egípcio lá!
- Mas que ordinário!
- É, no seu lugar eu tomaria uma atitude.
E foi isso que Xin Li Ping fez, partiu direto para a loja de Aliluis, esquecendo a sua aberta, e começou a gritar na rua. Soube-se que os dois brigaram de soco e tapas em plena Via di Fiori. Um escândalo. Emanuelle saiu satisfeita e foi para casa.

***

Peter ficou embasbacado ao ver Sadine descer pelas escadas trajando o vestido vermelho que ele havia lhe presenteado. Todos estavam muitos elegantes. Mas não seria dessa forma que terminariam no final da noite, porque depois de tanta bebida que havia na festa, muitos perderam certo traquejo.

Dona Flaviana sabia como receber convidados. Até mesmo Nhá Cleide que também fora convidada sentia-se uma dama. E foi naquela noite que as duas se encontraram na despensa onde tiveram uma conversa.
- Nhá Cleide, minha amiga, a muito tempo precisava conversar com você.
- Diga sinhá, qui suncê percisa?
- Acho que precisamos fazer mais uma vez nosso trabalho, mais intenso do que realizado na noite em que acharam o sr. Martino morto. Mais uma vez precisarei de sua ajuda.
- Suncê sinhá sabe quieu sempre hei di ajudar vóis suncê. Se percupe não quieu dou um jeito de arranjá as côusa. Mais vorti pra festa sinhá, devim di tá esperando suncê.
- Voltarei, mas aguarde meu sinal! É importante. E sabes que sempre lhe darei uma gratificação.

Dona Flaviana voltou e juntou-se as amigas. Estava toda orgulhosa, exibia a filha, e foi nesse momento que Peter, tocando um talher numa taça, solicitou o silêncio de todos. E pronunciou:
- Bom antes de cantarmos os parabéns para nossa amada Sadine, eu gostaria de anunciar a todos que nosso amor é tão grande que queremos compartilhar uma vida juntos o mais rápido possível. Pensando nisso, decidimos marcar a data de nosso casamento. Será dia 10 de setembro. Todos aguardem que logo os convites chegarão.
Uma salva de palmas ecoou pelo salão da casa dos De Carli, acompanhado de um "Viva os noivos" gritado pelo sr. Felipo, seguido dos parabéns.

Porém o grande acontecimento da noite estava por chegar, e ocorreu uns quinze minutos depois. A campainha tocou, e para dentro do salão entraram quatro bêbados tocando violas como se fizessem uma serenata. Porém parecia mais um coral de gatos no cio.

Fora de fato uma surpresa de extremo mal gosto. Sadine ficou arrasada, perdeu a compustura, e demonstrou-se como sempre foi, esbravejando gritou ordenando que expulsassem os bêbados da festa. Logo alguns rapazes mais fortes já estavam forçando a saída dos bêbados quando um deles tirou uma coisa do bolso e disse:
- Ganhamos um bom jantar para virmos aqui te homenagear, rapariga. Te mandaram essa flor!
E no chão ele atirou uma pequena flor violeta, com um lenço, com uma letra V bordada em cor roxa.

Sadine falou para si mesma:
- Ela me paga, ela me paga!

***

No domingo seguinte, pela primeira hora da manhã a campainha da casa de Madame Filipa tocou. Emilieva correu atender, e ao abrir a porta, quase nem reconheceu. Era o sr. André Ravéras e sua acompanhante Brunette, que de não lembrava em nada a cocote que partira com ele ao Brasil, dois meses atrás. Parecei mais com as amigas de Sadine.
- Ah! É você! Entrem. Disse Emilieva.
- Sim, acabamos de voltar do Brasil, e Brunette veio apenas visitar a irmã. Logo vamos em busca de uma casa para morarmos juntos.
- Nem todos precisam de um leiteiro, querida. Falou Brunette.
- Que sorte a tua, pois entrem, tenho o que lhes contar, muita coisa aconteceu, e te gente que tem a sorte um pouco pior, do que quem precisa de um leiteiro.
- Cadê minha irmã, e Madame Filipa, vim vê-las.
- Bom, Madame Filipa está adoentada, com tuberculose. Depois você pode subir e vê-la, e fica o tempo todo em seu quarto.
- Então creio que Guilhermina esteja no comando por aqui? Perguntou André.
- Na verdade, tudo ficou por conta de Ema...Violeta. Guilhermina sumiu, esperávamos que você tivesse alguma notícia dela, Brunette.
- Como assim sumiu? Como assim?
- Não se sabe, um dia ela saiu para acompanhar o senhor Xin Li Piing, e nunca mais voltou para cá. Não sabemos o que houve.
- Não é possível. Oh meu Deus! Pobre irmã! Que tragédia! André, meu amor precisamos encontrá-la.
- O detetive Sérgio está de olho no caso, Emilia?
- Sim, mas não creio que saiba muito, deveriam ir ter com ele!
- Vamos André, vamos falar com ele agora, minha irmã precisa ser encontrada! Aposto que tem dedo da lambisgóia da Violeta nisso.
- Bem que eu gostaria de fazê-la desaparecer!
Das escadas ouviram Emanuelle que descia.
- Mas não tive a sorte de fazer evaporar como mágica, sua querida irmã!
- Ora Violeta, seja mais amena, Brunette está sofrendo. Falou André.
- Eu entendo, a irmã dela sumiu. Mas também não ouvirei calada falsas acusações. E é melhor você não gritar, caríssima, porque Madame Filipa precisa de repouso.
- Eu vou indo! E seu eu descobrir algo de podre nessa história eu te mato Violeta! Praguejou Brunette.
-Eu te mataria antes. Falou Emanuelle pondo a mão no anel que havia ganhado de Emilieva.
- Não duvidaria disso. Disse André. É melhor Guilhermina aparecer logo, ou terei que lembrar algumas de algumas coisas que aconteceram em Paris e que eu já esqueci.
- Você não faria isso. Disse Emilieva.
- Não se preocupe amiga. Esse senhor está enfeitiçado. Ninguém daria credibilidade a ele. E se não se importam, preferimos que saiam logo daqui.

O casal saiu imediatamente, e partiram direto para a casa do detetive Sérgio. Porém não souberam de muita coisa, o que tornaria a busca por Guilhermina bastante complicada.


***

O dia de Emanuelle não seria nada agradável. Apesar da discussão com Brunette e André, ela se animou para o pique-nique que faria com Tulio, num pequeno parque nas margens do Arno. O fato era que Emanuelle não tinha paixão nenhuma por Tulio, apenas começava a vê-lo como um marido impecável e que poderia lhe dar uma vida muito melhor do que ela tinha. Por outro lado, Tulio, o jovem mancebo rico vivia sozinho, gostava da compainha de Emanuelle, e também via nesse caso a possibilidade de um matrimônio.

Tulio providenciara tudo, desde a toalha ao cesto com pães e frutas. Chegaram em torno das três horas da tarde no local, sentaram-se no chão, comeram, riram e até trocaram alguns beijos. Aquela fora uma bela tarde ensolarada, e quando Emanuelle começou a sentir um pouco de alegria, depois de muito tempo, tudo aconteceu.

Ela fora atingida por um punhado de bosta. Acertaram-lhe bem ao lado da orelha esquerda. Quando ela virou-se para o lado para ver quem havia atingindo-a, deparou-se com Peter tentando segurar uma enfurecida Sadine, que começou gritar:
- Vadia, isso é o que tu merece, merda! É para aprender a não estragar a festa dos outros. Me solte Peter, eu vou quebrar aquela puta.
- Ah, é você, gritou Emanuelle. Então sendo assim, me atire quanta bosta quiseres. Meu agouro já foi mandado, espero que sejam muito, mas muito felizes. Espero que tu tenha o calor que eu possuo e que muitas noites aqueceu seu noivo! Isso quando ainda namoravam!
- Cale a boca, sua vagabunda. Disse Peter.
- Não fale assim com ela. Disse Tulio.
- Deixe Tulio. Esse cavalheiro não é um homem digno como tu. Mal esperou a namorada dar as costas e já partiu comigo pro bordel. Ah, mas ele deve ter esquecido da noite em que o senhor Martino morreu. Claro, sempre eu tive que ser a suspeita.
- Você é uma mentirosa. Uma mentirosa maior. Disse Peter.
Foi aí que Tulio partiu para cima e começou a lutar com Peter.
Sadine partiu para cima de Emanulle e as duas se pegaram pelos cabelos.

Alguns minutos depois, todos desgrenhados partiram pros seus cantos, praguejando-se.
Quando já não eram mais vistos por Peter e Sadine, Emanuelle comentou com Tulio:
- Obrigado por me defender. Mas sabe, estou satisfeita. Semeei uma discórdia entre os dois.
- Eu queria que você não se preocupasse mais com eles. Tu tens a mim.
- Eu sei. Não me preocuparei mais. Mas eu precisava disso. Mas vamos logo, Preciso de um banho. Esse cheiro de merda no meu cabelo não é nada agradável.

E antes do sol se por Emanuelle já havia tomado um banho e se preparava para abrir o salão.
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